Pr. Paulo Sérgio Batista
Raciocinando com os grupos pseudocristãos
Por Elvis Brassaroto Aleixo
Autor da mais nova obra do mercado evangélico sobre apologética, intitulada Manual de respostas bíblicas, Paulo Sérgio Batista é membro da 1a Igreja Batista de Taboão, em Guarulhos, SP. Graduado em teologia pelo Seminário Batista Esperança, atualmente leciona na FWM (Faculdade Teológica e Apologética Dr. Walter Martim), ambos em São Paulo. Já ministrou a matéria “Religiões comparadas” em diversas instituições de ensino teológico e tem dedicado quase vinte anos de sua vida à pesquisa apologética, trabalho pelo qual tem contribuído com várias entidades teológicas nessa área. Ao tomar conhecimento de mais um de seus projetos: idealizou o seminário “Raciocinando com as seitas pseudocristãs”, Defesa da Fé não perdeu tempo, colheu algumas informações e o resultado é a entrevista que segue.
Defesa da Fé – Qual é a relevância da apologética cristã para o cristianismo atual?
Paulo Sérgio – A apologética sempre teve grande importância na história da Igreja e, mesmo antes da conclusão e fechamento do cânon do Novo Testamento, foi um instrumento fundamental para auxiliar os crentes em sua caminhada inicial diante de um mundo extremamente antagônico à nova fé. Quando estudamos história eclesiástica, percebemos que, em muitas ocasiões, os apóstolos e pais da igreja levantaram suas vozes em defesa do evangelho. Não podemos nos esquecer, jamais, do legado de grandes nomes do cristianismo primitivo, como, por exemplo, Justino Mártir, Inácio de Antioquia, Tertuliano, Irineu, Orígenes, etc. Eles produziram grandes obras voltadas a esse ministério. Particularmente, entendo que, se a apologética possuía sua importância no início da Igreja, quanto mais agora, no mundo atual, onde vemos tantas novidades religiosas e um pluralismo de crenças quase imensurável.Além disso, a apologética também é essencial à militância evangelística e missionária. Não podemos reduzi-la somente à heresiologia. Existem vários tipos de apologética, cada qual com sua abordagem e metodologia (clássica, histórica, pressuposicional, experimental e evidencial). Conhecer alguns desses métodos é útil ao diálogo com aqueles que não crêem no cristianismo, porque nos tornam mais sensíveis à percepção de “fendas” na cosmovisão das pessoas. Ou seja, podemos ver como elas enxergam Deus, e também como vêem a relação de Deus com o homem e sua criação. Em outras palavras, se conhecemos a crença de alguém, podemos fazer perguntas mais aguçadas sobre suas crenças e/ou suas opiniões acerca de outros temas relacionados à vida (existência de Deus, revelação escriturística, etc). Conhecendo bons argumentos apologéticos, podemos levar as pessoas a uma auto-reflexão doutrinária e, conseqüentemente, lançar dúvidas sobre sua crença, abrindo, dessa forma, caminho para a doutrina bíblica ortodoxa.
Defesa da Fé – Em seu seminário, você compartilha dicas práticas sobre como o crente deve se comportar num diálogo com o sectário. Quais seriam as estratégias e os procedimentos mais imprescindíveis?
Paulo Sérgio – Creio que, na maioria das vezes, quando tentamos compartilhar o evangelho de Cristo com membros de alguns “grupos não-ortodoxos”, acabamos perdendo uma grande oportunidade, porque não temos uma estratégia eficaz. No seminário, tento apenas transmitir um pouco da minha experiência. Dou dicas que, na minha opinião, podem surtir efeitos positivos. Por exemplo: deixar a pessoa se sentir à vontade; ser cordial com ela; deixar que ela expresse sua opinião religiosa sem interrompê-la, para não inibi-la; não demonstrar ser o “dono da verdade”, mas apenas deixar claro que está buscando a veracidade dos fatos; respeitar a crença da pessoa; não permitir que o sectário se esquive do assunto; tratar um tema por vez; procurar, na medida do possível, documentar as afirmações que está passando, para não parecer que se trata apenas de uma opinião pessoal; empregar mais perguntas do que afirmações, porque perguntas exigem respostas pensadas, as afirmações, nem sempre, ou não necessariamente; jamais deixar passar em branco uma pergunta que não tenha sido respondida, insistindo na resposta antes de ir à próxima indagação; e, finalmente, jamais tachar qualquer doutrina do grupo a que o sectário pertence de “falácia”, “engodo”, “absurdo”, “loucura”, “besteira”, etc., mesmo que tal ensino mereça, de fato, todos esses adjetivos. Creio que essas dicas possuem valor pragmático. São eficazes.
Defesa da Fé – O seminário é um convite para “raciocinar com as seitas”. Em que medida a lógica argumentativa pode ser um instrumento do Espírito Santo para conversão dos sectários?
Paulo Sérgio – Não sou um fideísta. Não creio que, em matéria de fé, não seja necessário o argumento racional. Nas Escrituras Sagradas, temos o apelo ao raciocínio para se compreender alguns assunto relacionados à crença e à fé cristã. Pedro afirma que devemos responder com mansidão a todo aquele que pedir (ou questionar) a razão de nossa fé (1Pe 3.15,16). O apóstolo, neste caso, não está tratando do sentimento da fé ou de uma convicção interior que demonstre uma suposta verdade espiritual. Antes, está se referindo ao uso do raciocínio e da razão na exposição da fé cristã.Creio que o que mais está faltando na igreja evangélica atualmente é equilíbrio. Precisamos ter, assim como o apóstolo Paulo, sensibilidade. Somente assim saberemos quando e como raciocinar com aqueles que pensam de forma contrária à nossa. Foi exatamente o que ele fez em Atenas, quando, tomando por base a crença dos atenienses no “deus desconhecido”, expôs a verdade do único Deus verdadeiro (At 17.16-31).Os nossos argumentos (e não podemos nos esquecer disso), por melhores que sejam, não são suficientes para convencer ninguém, pois, segundo o próprio Jesus, essa função pertence ao Espírito Santo (Jo 16.8-13). Somos totalmente dependentes do Senhor!
Defesa da Fé – Neste dias em que o movimento Nova Era e seus múltiplos desdobramentos estão em voga, é razoável dizer que a ameaça dos grupos pseudocristãos foi deslocada para um segundo plano?
Paulo Sérgio – Não. Apenas acredito que esses “desdobramentos” trouxeram uma ameaça a mais à Igreja. Quando você refuta um grupo que possui uma organização definida, é mais fácil alcançar um objetivo. Com a Nova Era não, porque o seu corpo doutrinário é visto pelos adeptos como um movimento “eclético” e não como uma denominação religiosa. Creio que qualquer grupo religioso ou filosófico que represente uma ameaça ao cristianismo bíblico deve ser pesquisado e refutado pela Igreja sem diferenciação alguma entre os movimentos. Definitivamente, não gosto de valorar e estabelecer níveis de importância sobre esse assunto.
Defesa da Fé – No seu ponto de vista, qual é a contribuição mais expressiva do livro que você publicou recentemente?
Paulo Sérgio – Não tínhamos nenhuma obra voltada ao público evangélico que tratasse da questão do pré-evangelismo. Ou seja, sobre como derrubar as barreiras intelectuais e espirituais dos não-crentes antes de anunciar o evangelho. O Manual de respostas bíblicas foi organizado exatamente para auxiliar nesse sentido. O livro traz respostas bíblicas relacionadas a sessenta e dois temas (por exemplo, aborto, alma, morte, ressurreição, reencarnação, Bíblia, Jesus, espiritismo, guerra, Deus, etc.). Os temas, que estão em ordem alfabética, vêm acompanhado de uma definição bíblica ou científica. Creio que esse livro será de grande auxílio para os irmãos e para as igrejas que desejam fazer evangelismo de casa em casa, mas têm receio dos questionamentos que podem surgir.
Defesa da Fé – Poderia compartilhar com os leitores alguma experiência pessoal no decorrer de todos esses anos em que vem ministrando nos púlpitos das igrejas brasileiras?
Paulo Sérgio – Já tive momentos muito abençoados por Deus. Há casos de adeptos que, após participaram das palestras que ministro, reconheceram que estavam no erro. Muitos líderes mudaram suas visões sobre como deveriam tratar os sectários. Todavia, a experiência mais impressionante que tive foi quando palestrei, durante um mês, numa igreja em Poá (SP). O pastor, um homem já idoso, e o seu auxiliar se levantaram no último dia da programação e reconheceram os erros doutrinários que estavam ensinando ao rebanho. Diante de todos, em consideração a tudo o que tinham aprendido durante todo aquele mês, humildemente pediram perdão por suas falhas. Foi um caso ímpar e edificante para todos.
Defesa da Fé – Deixe uma mensagem aos pastores e aos assinantes.
Paulo Sérgio – Minha mensagem é simples e objetiva: desenvolvam em sua igreja local um ministério apologético voltado ao evangelismo e incentivem os membros a abraçarem esse ministério. Realizem seminários, estudos e debates sobre esse assunto. Assim, estarão ajudando os crentes da igreja antes que algum deles seja seduzido pelo engano das seitas, pois, segundo Paulo, a Igreja de Cristo deve ser coluna e sustentáculo da verdade (1Tm 3.15).
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